Bairro Alto - Inocos

Olá.
Tudo?
Tudo!
O verniz de hoje cai-me como uma luva. Bebés, fechem os olhos e sintam-se envolvidas naquele vórtex que se vê nos filmes em que a imagem desfoca, se ouve brlóim, brlóim, brlóim e a gente se vê subitamente num flashback ao passado.
Ora era eu uma jóve de seus 18 / 19 anos e lá andava a desfilar os meus ricos 48 quilos Bairro Alto acima, Bairro Alto abaixo. E não, não era programa de fim-de-semana. Não! A menina dava-se ao trabalho de, todos os dias após o jantar, pegar em si e ir a pé dos Anjos até ao Bairro Alto para tomar o café com as suas amiguinhas do peito. Entende-se agora os 48 quilos, não é verdade??
Ahh bons velhos tempos! Dominavamos a cena. Eramos as Rainhas do Bairro Alto. Os donos dos estabelecimentos comerciais esbofeteavam-se na tentativa de garantir a nossa presença nos respectivos antros da vil beberagem. E nós, meninas no entanto extremamente bem comportadas, lá agraciávamos as casas mais bem reputadas desse bairro tão castiço.
Ora foi só abrir este frasquinho da Inocos que se me subiu pelas narinas acima o cheiro característico das Primas, onde os sapatos se colavam ao chão, tal não era o aprumo higiénico daquele ladrilho! Na minha mente ouço a tocar "O Júlio é um Duro" numa jukebox que lá está e que trabalha ainda com moedas de escudo que temos que ir ao balão comprar. 
Conforme dou a primeira demão de verniz sinto-me a entrar pelo Arroz Doce a dentro e a pedir em alto e bom som à Tia Rosa que me dê um Pontapé na Co... errr..... que me dê uma bebida, mixórdia inenarrável, que é o ex-libris da casa. E é conforme entra a segunda camada na unha que as portas do Pintaí se abrem de par em par para revelar a mais emblemática catedral da música brasileira em Lisboa! Isto na altura em que, graças a Deus, não tinhamos sido ainda invadidos por elementos duvidosos, cor de laranja, com os seus Jézuiz mi Ama e forrós de gosto debatível....
Ahhhhhhhh..... isto não é um verniz, amigas! Isto é uma máquina do tempo!

Inocos - Bairro Alto

Três camadas mas, para variar, duas chegam e sobram. Conseguiu supreender aqui a bebé na medida em que parecia ligeiramente mais banal no frasquinho. Mas na unha ele ganha toda uma nova dimensão! Não fica tão roxo quanto eu pensava. Não, fica assim com uma vibrância meio violeta barra neon! É LINDO.
A secagem é uma coisa fora deste mundo! Seca mais depressa que os copos de sangria se evaporam no Tacão Alto. Seca mais depressa do que o tempo que demora a ir do extinto Lua Nova até à Tasca do Chico! Epá sim! Esta gosminha mais do que embelezar as minhas unhas, aqueceu-se-me o coração... sniff.... beijinho ao Tio Foncas, ao Ti Vitor, ao Pai Acácio, ao Toni, esse armário, ao Chico, enfim... aos personagens que coloriram a minha (nossa) adolescência. Bons tempos esses em que ainda havia respeitinho e uma moça podia sair à noite descansada!

(dedico este post especial à Leite, à Noggas, à Shandi e a outras companheirinhas de luta!)